terça-feira, 11 de novembro de 2014

Entre tablets e amarelinhas

Amarelinhas. Bolinhas de gude. Bonecas e piões. Assim ensinaram-nos a brincar e brincaram os nossos pais. Eram eles quem nos diziam como, quando e onde brincar. De certa forma, eram eles os próprios agentes publicitários e que na maioria das vezes os legitimávamos também como os nossos heróis.

Os desafios atuais são outros: não somos mais heróis para a geração Y ou Z. Também não somos os agentes publicitários a mostrar-lhes o que, quando e onde comprar.

O que vemos é uma excessiva exposição de campanhas publicitárias aliadas a mensagens subliminares que interferem na formação sociocultural das crianças. Essas campanhas visam explorar a imaginação infantil para que pais e/ou responsáveis fiquem reféns das vontades de seus próprios filhos motivadas por um mercado que valoriza cada vez mais o ter em detrimento ao ser. O verbo empregado quase sempre é trocar e quase nunca doar ou reciclar; é adquirir e nunca emprestar ou compartilhar; tornando, portanto, crianças cada vez mais egoístas e solitárias.

O desafio é enorme. Cabe ao governo atuar de forma fiscalizadora, através dos órgãos competentes, como o Conar e o Conanda, as campanhas publicitárias infantis que visam tão somente explorar muito mais do que apresentar a meninos e meninas seus sonhos materializados em brinquedos, roupas, calçados ou até mesmo gêneros alimentícios punindo de forma exemplar publicidades abusivas que promovam o consumismo desenfreado e a segregação social.

Já a família e a escola devem incutir valores que vão além dos invólucros de presentes cada vez mais nanotecnológicos e resgatar o caminho da solidariedade e o domínio próprio corroborando assim no papel de construir uma identidade menos consumista e mais cidadã e que questões sobre consumismo versus necessidade sejam debatidas para que futuramente tenhamos consumidores responsáveis, críticos e conscientes.


Afinal, agindo assim formaríamos uma geração apaixonada por tecnologia e que valoriza também as ações humanas, quer na representação de uma amarelinha, quer nos games ou nos tablets.