sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O grito dos (in)dependentes


Ouviram do Ipiranga às margens plácidas uma estória própria de pescadores que sempre me fascinou com aquela imagem recorrente nos livros didáticos de história. De um lado, os índios-já-colonizados e os povos-para-cá-trazidos, e do outro um exército de portugueses com armas de fogo nas mãos, mas impotentes diante da imagem do Imperador D. Pedro I, que proclamava a (in)dependência do Brasil naquele cenário bucólico, fazendo eclodir o grito “(In)dependência ou morte”!
Frustrei-me ao saber depois, por meio de minha professora de história do Ensino Médio, que, de um povo heroico o brado retumbante na verdade nunca surgiu. E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos somente o temos nos dias de hoje com o advento do aquecimento global. E que raios fúlgidos capazes de provocar até câncer de pele em quem está em densas sombras! Aliás, se ainda houver sombra em alguns anos... Basta olhar as últimas imagens de satélites e ver que o desmatamento tem uma aceleração maior que as tecnologias de informação. Brilharam no céu da pátria nesse instante apenas raios ultravioleta.Se o penhor dessa igualdade fosse verdade, não teríamos tantas desigualdades sociais, por isso não passas de um jargão para rimar. Entretanto, conseguimos, ó, Brasil, conquistar com braço forte as suas matas, as suas minas, as suas riquezas, deixando um rastro de devastação total! Em teu seio, que não amamenta mais nossas crianças, mas se tornou tetas fartas para políticos, ó Liberdade, clamam os desfavorecidos e oprimidos.Desafia o nosso peito a própria morte e prevalece, pois nossos filhos estão morrendo de gripe suína, aviária, sazonal, dengue e até de meningite, que pensávamos ter erradicado. Ó Pátria amada dos pobres. Idolatrada apenas pelo futebol e por cinco estrelas que carregamos no escudo da CBF! Salve! 1958... Salve! 1962... Salve! 1970... Salve! 1994... Salve! 2002...Brasil, um sonho intenso que virou pesadelo nas mãos dos coronéis em pleno século XXI. E como um raio vívido de amor e de esperança à terra desce, assim descemos em todos os rankings mundiais, sobretudo na renda per capita, na educação e na cultura.Se em teu formoso céu, risonho e límpido, não houvesse tanta fumaça de indústrias que não tratam seus lixos e de gás carbônico lançado todos os dias, quem sabe a imagem do Cruzeiro um dia ainda resplandecesse. Gigante pela própria natureza, tu eras, hoje já não és mais... És belo, és forte, impávido colosso, pois mesmo diante de tanta corrupção ainda sobrevivemos como uma nação, ainda pagamos nossas dívidas com o FMI e, por ironia, até emprestamos dinheiro para eles e deixamos morrer a política de moradia, reforma agrária, saúde e educação. O importante é ter crédito lá fora... É bancar a farra para os outros... E o teu futuro espelha essa grandeza de país solidário-com-as-causas-dos-outros-e-não-as-nossas! Terra adorada, entre outras mil, pois em qual terra roubariam tanto e ficariam incólumes? És tu, Brasil, Ó Pátria amada o país das maravilhas? Dos filhos deste solo deixaste de ser mãe e és mãe gentil para vereadores, prefeitos, deputados, governadores e senadores... Pátria amada, Brasil desperta enquanto é cedo e derruba os que a exploram. É o grito dos (in)dependentes!Deitados eternamente em berço esplêndido estão nossas crianças pelas calçadas e nossos índios sendo queimados em praça pública e ainda vivos ao som do mar e à luz do céu profundo. Fulguras, ó Brasil como umas das maiores apostas no mercado internacional, pois quem não te quer explorar se és o florão da América? E que seja iluminado ao sol do Novo Mundo que ainda esperamos, simplesmente por sermos brasileiros e, como diria outro jargão, “não desistirmos nunca”!Do que a terra mais garrida outrora, hoje já não se vê tanta beleza, pois a fumaça tomou o lugar das nuvens, os pássaros já se autoexilaram para outro lugar, resta apenas teus risonhos, e lindos campos para devastar, mesmo sabendo que neles ainda têm mais flores; pois flores não importam, o que importa é pasto!“Nossos bosques têm mais vida”, ainda bem que está entre aspas, pois sentenças entre aspas podem significar ironia. “Nossa vida” no teu seio “mais amores” é o que fazem os poderosos quando joga na lama a credibilidade que lhes damos por meio do voto democrático. Ó Pátria amada pelos necessitados. Idolatrada apenas pelo futebol, a ponto de ter dois campeões em um mesmo ano sem que os dois se tenham enfrentado! Salve o Sport, legítimo campeão de 1987, gritam 160 milhões de brasileiros legitimados pela CBF e pela Fifa. Salve o Flamengo, gritam os quase 33 milhões de brasileiros e a imprensa carioca, que é descaradamente flamenguista.Brasil, de amor eterno seja símbolo do que te propusestes a ser, e não daquilo que querem que sejas! O lábaro que ostentas estrelado prova que aqui a lei que prevalece ainda é a do mais forte, já que Ordem e Progresso, escrito em tua flâmula, foi sugestão de um ministro da guerra.E diga o verde-louro desta flâmula - Paz no futuro só a teremos se resolvermos nosso presente, e glória no passado é coisa de museu! Mas se ergues da justiça a clava forte que acerta somente o menor e não o maior, mesmo assim verás que um filho teu não foge à luta, e a maior prova disso é o famigerado salário mínimo pago a milhões de brasileiros que com ele têm de pagar as suas necessidades vitais básicas e as de sua família, com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer (leia-se cultura), vestuário, higiene, transporte e previdência social com reajustes anuais. É o que preconiza a tua Constituição, enquanto que todas as demais coisas mantêm reajustes quase que diários, por isso nem teme, quem te adora, a própria morte, pois a verdade é que cansamos...Terra adorada, entre outras mil, pois em qual terra que roubariam tanto e ficariam incólumes? És tu, Brasil, ó Pátria amada o país das maravilhas?Dos filhos deste solo deixaste de ser mãe e és mãe gentil para tantos opressores... Pátria amada, Brasil, desperta enquanto ainda é cedo e ainda temos esperança. É o grito dos (in)dependentes!
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De Jonas P. Barbosa (Publicado no jornal Hoje Em Dia, Sexta-feira, 11/9/2009)
Desenho de Thalyssa Viana (9º ano do Ensino Fundamental)