quinta-feira, 10 de março de 2011

O homem digital

por Mário D'Alcântara

Algumas pessoas que assistiram à minha palestra na Primeira Quinta Digital, promovida pela Bola Brasil, enviaram-me e-mails para que eu reproduzisse, aqui, alguns dos questionamentos que eu fiz.
• De Aristóteles a Tim Berners-Lee, fizemos repentinamente uma viagem de dois milênios migrando do conceito analógico para o conceito digital. Daí a porrada que passou a exigir um novo processo evolucionário do ser humano.
• O grande conflito: convivemos com paradigmas que perderam o sentido e paradigmas dos quais ainda não apreendemos o sentido.
• O mais engraçado é que só as pessoas que não participam ainda do mundo digital continuam chamando nosso mundo de digital. São expectadores que não são nem turistas digitais, nem migrantes digitais, nem nativos digitais.
•Disponibilidade de tecnologia não é qualidade de informação. Sem educação a tecnologia não serve para nada. A Internet apenas ampliou a mais antiga lacuna social da história que é o desnível educacional.
•Está todo mundo preocupado com a revolução tecnológica. E a revolução humana? Temos de partir para a reumanização dos usos da tecnologia.
•Pergunto: de que forma os migrantes e os nativos digitais estão sendo social e culturalmente manipulados pela gigantesca força dos donos globais da comunicação digital?
•Concordo com meu guru Manuel Castells: a nova sociedade, a nova economia e a nova cultura impõem a perversidade da exclusão. Desconectaram as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para a dinâmica do capitalismo global.
• A Internet inaugurou o "bate-papo" por escrito. Uma dicotomia que tenta gerar um texto com características de oralidade. Mas a tentativa de retorno ao "oral" está conduzindo à indigência e à bossalidade verbal.
• Pois eh, nem sempr si tem dias iguais ao q foi hj...mas nós paçamos por cima di td iço..pq a uniaum faz a força! kkkkkkk! Dias como esses das fotux sempri estaraum prsts no coraçaum pra guardar! Td mundo sabe q eu amo dimais essa mininaa...ela é migona msm!
• Ngm merece, ne naum?
• Nas redes sociais, além de seu objetivo mais patente, que é a solidão compartilhada, o que a grande maioria dessas redes está produzindo? Não estará havendo uma imensa confusão entre canal de comunicação e suporte tecnológico com o próprio conceito de comunidade?
• As comunidades virtuais correm o risco de se tornar meros plágios do formigueiro e da colmeia. O mesmo objetivo perseguido por todo mundo pode resultar na estúpida repetição das mesmas tarefas e a clonagem de um imenso universo de idiotices que não têm nada de criativo.
• As novas tecnologias de informação e comunicação (TCI's) devem ser entendidas e usadas como meras extensões facilitadoras da nossa criativa capacidade de inovar.
•Em junho de 2008, Jorge Ijuim e Taís Tellaroli publicaram um artigo na Revista Ciberlegenda, da UFF, em que resumiam sua tese da seguinte forma:
•Sociedade global, aldeia global, sociedade pós-industrial, sociedade da informação, sociedade em rede, sociedade tecnológica, sociedade do conhecimento.
•Não importa como chamemos o momento histórico-cultural que estamos experimentando, marcado por transformações de toda ordem, em qualquer parte do mundo.
• É fundamental, no entanto, reconhecer as mudanças surpreendentes movidas pelo advento das Tecnologias da Informação na Comunicação (TICs). A título de provocação prospectiva vale, desde já, indagar: como o homem poderá conduzir-se nessa galáxia de enésimas vias, na busca de seus objetivos fundamentais de liberdade e bem-estar? Ou seja, como vai cumprir sua finalidade - primeira e última - de humanização?

FONTE: HOJE EM DIA, 21 de Agosto de 2009

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