quarta-feira, 19 de maio de 2010

Greve de professor

Após 41 dias de lutas, reivindicações, assembleias, e mesmo assim o governador de Minas mostra-se indiferente à luta da classe desses trabalhadores e o faz, como diria o professor Anis José Leão porque “educação não é fábrica de automóvel” e só provoca caos quando vão às ruas protestar contra o pífio salário pago.
Até mesmo quem deveria estar do lado dos professores, pois são elementos ligados diretamente no processo educacional, deixam-se levar pela manipulação explicativa de notas “pagas” pelo governo mascarando o salário desse profissional que é em Minas é um dos piores no Brasil.
Alguns cidadãos já me alertaram que quando fiz a opção da docência, o fiz sabendo que o salário é baixo. Concordo! Mas não justifica aceitar de forma “bovina” essa situação, já que o próprio governo tem criado metas educacionais e planos pedagógicos cada vez mais complexos, como por exemplo ENEM e tantas outras avaliações que a população desconhece como PAAE/SIMAVE, Prova Brasil e por aí vai... Ou seja, como esse profissional poderá se atualizar, reciclar, qualificar em nome da qualidade do ensino público se o salário que recebe é inferior ao de muitas profissões braçais? (Aliás, essa pergunta é reprodução da coluna de Opinião do HOJE EM DIA, edição do dia 19-05-2010 e que para mim tem sido o único jornal imparcial da capital que tem dado cobertura ao movimento.) E o que é denunciado na coluna é verdade! Convivemos com profissionais que dobram a carga horária para ter uma compensação salarial digna e com o excesso de horas-aulas já sabemos que a qualidade do ensino não é o mesmo.
A intransigência do governo é tão ditatorial que viola os princípios básicos da Constituição Federal, que até uns dias atrás era o Regulamento Maior, hoje pode ser interpretada de acordo com situações e interesses peculiares...
Sei que a maioria da população nesse momento só está preocupada com uma coisa: os filhos em casa, quando na verdade deveriam estar aliada à luta por um ensino cada vez melhor e isso implica utilizar-se de todos os meios necessários e democráticos para se chegar a um acordo.
A pergunta que faço é essa: E se a Associação de pais unisse ao movimento e cobrasse do governo uma posição? E se a sociedade, ao invés de julgar ou ficar alheia à luta, resolvesse cobrar dos nossos governantes a qualidade de ensino? [Qualidade de ensino implica melhor valorização de sua mão de obra, neste caso o piso salarial reivindicado pela categoria.]
Seria um surto de lucidez como bem retratou José Saramago em “Ensaio sobre a lucidez” quando uma sociedade inteira respondeu pelas urnas eleitorais o seu desejo?
Vejam bem representantes políticos: o povo de hoje não é mais o mesmo de ontem! Os profissionais que lutam hoje já não são mais o mesmo de outrora, diria que nem são os mesmos de antes da greve! Agora vocês decidem como querem ser lembrados: como fanfarrões que na hora de votar pelo aumento dos próprios salários nem se quer lembram que existe a lei de responsabilidade fiscal, todavia a famigerada lei é lembrada quando se está em jogo é o interesse da sociedade... Com isso, aposentados ficam sem seus reajustes (para um país que envia milhões de reais à ajudas humanitárias, 7,7% de aumento pode significar uma catástrofe financeira), greve de professor é tida como ilegal quando a Constituição postula o contrário e o governo segue fazendo o papel do pintinho “amarelinho” que dizia “não-estou-sentindo-nada-e-não-estou-ouvindo-nada”.
Uma nação, para Lobato, se faz com homens e livros e a relação dos homens com os livros perpassa a educação e seus educadores, senhor governador.

Sola Scriptura.

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